sexta-feira, 30 de abril de 2010

SOM DA SEXTA - TOP5 #2

O SOM DA SEXTA de hoje vai ser justo a essa semana que Recife-Olinda está vivendo: Maratona Cine PE. Um local que vai além de ver curtas, longas e discutir sobre cinema. As pessoas respiram cultura, moda, música e cultura. Mas também existem aqueles que respiram o ar dos outros para entrar no movimento. No mais, amanhã vai rolar o show da Nouvelle Vague pelo projeto Mercado da Música, no Eufrásio Barbosa. Saiu uma matéria muito boa no Diário de Pernambuco e eu posso concordar: "Nouvelle Vague talvez seja a mais bem sucedida banda cover do mundo."
A banda é um coletivo sonoro, com várias cantoras francesinhas de voz doce e suave, que cantam músicas punk e new wave dos anos 80, num estilinho bem bossa nova. Mistura ótima, não?
O show de amanhã vai ser baseado no último disco deles, NV3. Mas vou colocar no TOP5 de hoje o segundo álbum, Bande à Part, que na minha opinião é o mais gostosinho de se ouvir. Posso dizer que Nouvelle Vague é bem o perfil bossa nova mesmo, pois é bem fofinho, gostosinho, amorzinho, lindinho (haha). Uma bossa nova que se preze, tem que ter as palavras terminadas no diminutivo!

SOM DA SEXTA - TOP5 #2

5 - Don't Go - Yazoo
4 - Blue Monday - New Order
3 - Dancing With Me - The Lords Of The New Curch
2 - Ever Fallen in Love - Buzzcocks
1 - Dancing With Myself - Billy Idol

Na versão Nouvelle Vague:



sábado, 24 de abril de 2010

Eterna Valsa pra Biu Roque

Recebi essa notícia pelo twitter  (via @tragoboanoticia) de uma forma ‘mágica’ e tentei não entender o recado. No meio do APR Club, entre o show de Ylana Queiroga e Alessandra Leão, foi divulgada a morte do Mestre Biu Roque. Horas depois, Siba e a Fuloresta subiria ao palco. Quanto profissionalismo, cá do computador pensei!

Eu me encantei pelo Mestre Biu Roque em 2008, no meio de um festival de teatro no Hermillo Borba Filho, “Projeto Conexão Cavalo Marinho”. Depois de uma apresentação lindissima de um grupo de teatro de São Paulo, houve a apresentação do “Cavalo Marinho Boi Pintado”, do Mestre Biu Roque, lá de Itaquitinga, interior de Pernambuco. Foi quando eu comecei a ligar os pontos e desvendar o desenho mal feito que sempre esteve aos meus olhos e só fui reparar naquele momento: Aquele senhor pequeno e delicado, era o grandioso da “Fuloresta do Samba”, o que entoava: “Maria, minha Maria / Meu doce da melancia [...] Vem ver o belo luar / Que a tua ausência reclama / Ô que noite tão preciosa / Não deve dormir quem ama.” e era também, o dono da valsinha linda que Céu canta no seu primeiro disco. Quando foi ano passado, no “Station Brésil”, shows de comemoração do ano da França no Brasil, o vi novamente no palco junto com Siba e a Fuloresta. Meus olhos sorriram ao ver toda aquela fragilidade, por conta da idade, de forma ativa e tão cultural da nossa raiz.

Aqui fica minha homenagem ao Mestre Biu Roque e que ele fique com a paz que ele sempre transmitiu para todos nós!

foto: Station Brésil - Siba e a Fuloresta / novembro de 2009

























Valsa pra Biu Roque - Céu

sexta-feira, 23 de abril de 2010

SOM DA SEXTA - TOP5 #1


Criei o SOM DA SEXTA!! Toda sexta-feira o blog vai lançar um TOP5 sempre com algum tema, mostrando um pouco sobre um disco e escolhendo as 5 melhores músicas. Seria bom que vocês mandassem idéias ou indicações, pra a gente construir juntos uns posts bem legais!

Como hoje é dia de São Jorge, pensei em estrear o SOM DA SEXTA em homenagem a ele! O Santo não é somente o padroeiro de muitos países da Europa como o extra-oficial do Rio de Janeiro (oficialmente é São Sebastião), como tem muito misticismo com a lua, a sua espada, seu cavalo e é também de influência forte no umbanda e no candomblé. Além de todo esse conteúdo religioso, São Jorge é a imagem de proteção de muitos artistas brasileiros e se tornou um domínio público para Jorge Ben, Caetano Veloso, Zeca Pagodinho, Jorge Mautner e por aí vai.

SOM DA SEXTA - TOP5 #1

5 - Cavaleiro de Jorge – Caetano Veloso (Cores, Nomes)
4 - Jorge da Capadocia – Funk como le Gusta + Paula Lima
3 – A Lua é Minha – Jorge Ben (As 14 Mais da Difusora 1973)
2 - Lua de São Jorge – Caetano Veloso (Cinema Transcendental)
1 – Ogum – Zeca Pagodinho + Jorge Bem (Uma Prova de Amor)

Deus adiante paz e guia
Encomendo-me a Deus e a virgem Maria minha mãe ..
Os doze apóstolos meus irmãos
Andarei nesse dia nessa noite
Com meu corpo cercado vigiado e protegido
Pelas as armas de são Jorge
São Jorge sendo com praça na cavalaria
Eu estou feliz porque eu também sou da sua companhia
Eu estou vestido com as roupas e as armas de Jorge
Para que meus inimigos tendo pé não me alcancem
Tendo mãos não me pegue não me toquem
Tendo olhos não me enxerguem
E nem em pensamento eles possam ter para me fazerem mal
Armas de fogo o meu corpo não alcançara
Facas e lanças se quebrem se o meu corpo tocar
Cordas e correntes se arrebentem se ao meu corpo amarrar
Pois eu estou vestido com as roupas e as armas de Jorge
Jorge é da Capadócia.



* Trecho da música Ogum.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

Karina Buhr é doce e colorida.

“Que seja  doce!”, essa frase de Caio Fernando Abreu se encaixa certinho com Karina Buhr. Ela é uma artista completa: Canta, compõe, dança, atua, toca seu tamborzinho, escreve crônicas e poeminhas... Claro, ainda sobra tempo pra se maquiar e se vestir toda poderosa.  E como uma boneca, ao mesmo tempo. Olho para ela e sempre vejo o tic-tac colorido no cabelo, as pulseiras, os brincos e os anéis de acrílico, a meia arrastão e a cara de menina tímida e serelepe ao mesmo tempo. Além de doce, Karina é colorida. O fruto disso vem da cultura plural existente em suas veias. Nascida na Bahia, radicada em Pernambuco e globalizada em São Paulo, Karina também é a Comadre Fulozinha, é o Maracatu Estrela Brilhante e Piaba de Ouro, é o “Original Olinda Style” e o Teatro Oficina de Zé Celso.

Eu estava há um bom tempo planejando escrever algo sobre Karina Buhr e o fabuloso disco Eu Menti Pra Você, mas uma coisa e outra, deixava de lado. Digo que sempre soube da existência dela e de sua voz única, carregada do sotaque pernambucano que toda vez me encantava. Mas foi esse ano, em janeiro, que eu me apaixonei de vez! Ela, toda doce e colorida, cantando no lançamento do projeto “Desliga a Bomba”: “Eu sou uma pessoa má, eu menti pra Rogê!” Ai, me encantei de vez. De lá pra cá fui estudando toda a sonoridade que ela tinha, acompanhando direto e quando menos vi, BÚÚÚÚM! Karina Buhr estava em todo canto: Diário de Pernambuco, Jornal do Commércio, Estadão, ISTO É, Criativa, Trip, Folha de São Paulo... Menino, a Ciranda de Incentivo à cultura foi certeira e ela está mais que linda no gráfico do mercado fonográfico.

Uma obra original, sem definição de gênero ou estilo, com 13 músicas autorais e produzida pela própria Karina junto com o baterista Bruno Buarque e o baixista Mau. Sem esquecer também, do time de músicos que ajudaram a dar um requinte fino a este disco: Fernando Catatau (guitarra), Guizado (trompete), Edgard Scandurra (guitarra), Marcelo Jeneci (acordeon e piano), Dustan Gallas (teclados e piano) e Otávio Ortega (teclado e bases eletrônicas). Estão errados os que pensam que só porque Karina Buhr vem do nordeste e tem uma raiz forte na alma, o conteúdo dela é todo regional. Não, é muito mais que isso. É universal, contemporâneo e pós-moderno! (ê, lelê! haha) e Telekphonen é a prova real de toda essa junção, cantada em alemão e com batidas quase orgânicas. Existe de tudo: Experimental, eletrônica, pop, brega, rock, punk, ciranda - funk, balada romântica. Mas se engana quem pensa que é mais uma balada romântica, cheia de amor puro. A malemolência de Mira Ira e Bem Vindas  são poéticas e vêm de dentro do coração. Já Esperança Cansa vai de frente a todo esse amor de forma sincera e furiosa. Solo de Água Fervente, O Pé, Avião Aeroporto e Nassiria Najahf são uma construção da realidade de dentro do ser humano e de fora do mundo, um andar e viajar que parte da cabeça, passa pro coração e solta pelo pé. As duas últimas, respectivamente, e Soldat mostram detalhadamente o timbre forte e marcante de Karina. O espontâneo e a criatividade muitas vezes inusitada, Vira Pó e tanto faz se é bom ou ruim. O auge do relax e da vida boa se encontram em Plástico Bolha. O talento de Karina Buhr e toda essa diversidade sonora, corresponde a todo esse potencial do disco. Eu Menti Pra Você é a mentira mais sincera e convincente da atualidade musical.

Eu te pergunto (eu não, Karina): Se você tiver que escolher entre você e o seu amor, você escolhe quem?

Karina Buhr em:

http://revistatpm.uol.com.br/blogs/karinabuhr






*Foto de Susan Eiko e desenho de Karina Buhr


quinta-feira, 15 de abril de 2010

Algumas músicas são atemporais.

Tom Zé nasceu em Irará, interior da Bahia, foi pra Salvador e estudou música na Universidade Federal da Bahia. Depois partiu rumo ao Rio de Janeiro e “São São Paulo meu amor”, se tornou um dos tropicalistas mais satíricos e inovadores, e posteriormente, foi “salvo” por David Byrne pelo seu exotismo estrangeiro. Não, não foi só esse seu papel na MPB. Tom Zé nos proporcionou o prazer de sentir que a música é sim atemporal.

Em 1976, um tempo depois de seu primeiro disco de 1968, lançado pela Rozemblit, do prêmio do Festival da Canção também do mesmo ano e do fim do movimento tropicalista, Tom Zé lança um disco que passou despercebido pela crítica nacional até o fim da década de 80: Estudando o Samba.

Tudo começa pela simples capa: arame farpado entrelaçado à corda de violão e o nome samba em destaque. Um convite para o completo que seria encontrado naquelas doze faixas de estudos dedicados às avessas (ou não) por Tom Zé.

Como um bom estudo, Tom Zé convidou o sambista Elton Medeiros para participar de algumas gravações, transformando a matéria bruta em perfeição (se assim pode dizer). O Índice está presente para construir (reconstruir ou desconstruir, pois é a última faixa do disco) a direção desse conhecimento:

“A felicidade
só dói
só dói se (Toc!)

mãe
tô só
dói mãe (Hein?)
ui!

Existe de tudo nessa disciplina do samba. Samba-canção - Só (Solidão), samba de raiz – Dói, Ui! (Você Inventa), Mãe (Mãe Solteira), chorinho – Se, cantiga de roda com uma raiz negreira – e até as que terminam desabando um pouquinho pro lado do maxixe – Vai (Menina Amanhã de Manhã), Hein?.  Há também aquelas músicas que são consideradas pós-modernas – Toc, que são de poesia paradoxal e literalmente feita para poder ignorar todas as informações desse estudo – . Um dos maiores temas abordados, é A Felicidade, de Tom e Vinícius. Tom Zé conseguiu expressar ao pé da letra, cada palavra que compõe essa canção, se tornando (na minha opinião) uma das regravações mais bem interpretada desse clássico da bossa-nova. 


Não pode deixar de citar também, de toda a ligação existente dos nomes das músicas do disco dentro das outras composições, de uma maneira bem visível. (Não tirando só Índice como exemplo)

Esse encontro do samba, erudito, regional e todos os caminhos dessa obra experimental e atemporal de Tom Zé, não foi o suficiente para aquela época. Ele acabou sendo afastado e digamos, escanteado pelo grande público. Como foi dito logo no começo, o reconhecimento só aconteceu quando David Byrne (ex-Talking Head) se encantou pela simples capa do disco em um sebo no Rio de Janeiro. O que aconteceu? Tom Zé ganhou o mundo e o disco foi aclamado pela imprensa internacional (The New York Times, Le Monde, Rolling Stones). 

Até onde vamos chegar sem perceber a verdadeira qualidade sonora existente no Brasil? Será que somente quando atingirmos o tal ‘conhecimento mundial’? Fica essa a reflexão quanto ao real valor do nosso nacionalismo musical.

Mas a questão toda aqui, não é discutir valores nem qualidade, e sim, observar com delicadeza esse grande disco. Após 34 anos, essa sonoridade presente no Estudando o Samba é mais que atual. O prazer da música é esse. É ver que mesmo com tanta mudança de ritmos e de culturas, as verdadeiras obras musicais nunca são esquecidas, nem deixadas de lado. Pode haver novas versões dessas canções, mas nada será comparado à peculiaridade de Tom Zé e sua ousadia musical que vai além.

Pra vocês, alguns marcos desse estudo fantástico do samba:








DJ 440




“Um bom DJ não é o que tem um bom repertório e sim, o que sabe sentir o público e ir levando-o.”

Juniani Marzani, o DJ 440 (isso, Quatro Quatro Zero), 28, tem paladar aguçado para a música e seu ofício de DJ. Pesquisador e bom apreciador de Música Popular Brasileira, há 10 ele vem se firmando na carreira de DJ e em 2009 lançou uma coletânea chamada Brasil do Futuro, com o apoio da Red Bull e CD Áudio Mix. DJ 440 contou pro MÚSICA DE PAI um pouco desse universo que todos acham que é só apertar o play e deixar rolar.



MÚSICA DE PAI- Como você descobriu o interesse de seguir a carreira de DJ?
DJ 440 - Sempre fui amante de música e tocava discos nas festas de amigos. Até que numa dessas festas, um amigo meu, Jorge Allen, que é irmão de músicos e estava começando a carreira, me perguntou por quê eu não virava DJ e me deu uns toques sobre isso. Eu nem sabia o que era direito!

MP - E quando você começou realmente a discotecar?
DJ - Gosto e estudo o ofício há mais de 10 anos. Fui criando um pequeno acervo de músicas e comecei a tocar em festinhas, no próprio computador. Com a internet pude pesquisar mais e descobrir softwares que simulavam programas de DJ. Depois comprei minha primeira aparelhagem profissional – até hoje os equipamentos são muito caros, e toco até hoje. Mas sempre estudando tudo.

MP - Muitas pessoas acham que ser DJ é fácil, que é apenas colocar as músicas e deixar rolar. Como é essa realidade?
DJ - É como qualquer outro emprego. O ofício de DJ tem sido confundido com uma brincadeira, como algo fácil. É divertido na maioria das vezes, mas não é fácil! As pessoas acham que ter alguns CDs legais e saber apertar um play, ou ter um laptop cheio de músicas é ser DJ. Ser DJ vai além, porque envolve um acervo e pesquisa profunda sobre determinado ritmo, precisa de técnica e domínio sobre um aparelho. É preciso estudar muito e sempre! Se você não se atualiza, se trumbica!

MP - Qual o seu conceito sobre qualidade de música?
DJ - Acho que existe público pra tudo. Existe os interessados na música de qualidade, os que não conhecem, outros que não conhecem e quando escutam gostam e os que são preconceituosos. Creio que a música é como um alimento e o conceito de ruim e bom é variável como paladar. A qualidade de música pra mim, é algo que inicialmente não me agrida e me agrade na melodia ou letra. Mas também pode acontecer de ouvir algo que não tenha nada disso e eu goste. O que posso dizer que é tenho um bom paladar!

MP - Como é o seu processo de seleção das músicas que você toca nas festas, já existe umas certas ou vai pelo momento?
DJ - Existem algumas músicas que são meio que tiro certo, tocou, dançou. O repertório numa foi predefinido, tudo sai na hora. Tem festas que passei de Chico Buarque a Toni Tornado ou outras de cumbia ao funk carioca. Um bom DJ não é o que tem um bom repertório e sim, o que sabe sentir o público e ir levando-o.

MP - Como você vê hoje em dia o papel do DJ na cena musical? Existe algum tipo de preconceito ou cada dia mais ganha uma visibilidade maior?
DJ - O papel do DJ é fundamental em diversos segmentos como boates, trilhas de desfile de moda, festas, eventos. A profissão de DJ é relativamente nova e a grande mídia não dá muito espaço. Existem dois lados da moeda, um lado os DJs têm crescido, adquirido respeito e muitos são verdadeiros pop stars, de cachê astronômicos. O outro lado estão os que lutam para ganhar cem reais numa noite longa, que produzem suas próprias festas por não terem espaço para tocar. É uma luta boa que está criando espaço para os DJs.

MP - Pernambuco é um estado que sempre foi produtivo musicalmente e bem visto em todos os lugares. Qual a sensação de tocar fora daqui?
DJ - Ser Pernambucano gera uma certa expectativa, somos muito respeitados e admirados. No meu caso, senti uma ótima receptividade em grande parte dos lugares que toquei. Não apenas por conta do trabalho, mas por ser Pernambucano e em especial Olindense.