domingo, 30 de maio de 2010

4º Whisky Festival - Camera Obscura

Essa última sexta-feira (28), Recife encontrou uma Club Nox com um público diferente do habitual. O motivo era o 4º Whisky Festival, com show da banda escocesa Camera Obscura. A Nox estava lotada dos estilosos agitadores culturais e formadores de opinião da cidade. Porém, não tão lotada como se o evento tivesse ocorrido no precário e caloroso Mercado Eufrásio Barbosa.
O show começou em torno de 1h da madrugada. Aquele som indie/rock/pop fofinho, tomou conta da pista de dança da boate, repleta de fãs que cantavam todas as músicas, aplaudiam no fim e gritavam a cada gesto diferente de Tracyanne Campbell e cia. Mas ali também existiam pessoas que estavam conhecendo a banda naquele momento, como ouvi de um menino: “Mas pra que essa gritaria toda? Nada demais, é só porque a banda é gringa!” Em partes posso até concordar com ele, mas que o público brasileiro é assim, efusivo demais, isso já não é novidade.
Com três discos lançados, mas com o show voltado para o último, The Maudlin Career, a banda tocou vários hits, como as dançantes French Navy, Honey in the Sun, The Sweetest Thing e até aquelas de dançar agarradinha com o “amorzinho”, só na levada suave, como Other Towns and Cities, My Maudlin Career e James. Sem contar com os clássicos, Tears For Affairs e Lloyd, I’m Ready To be Heartbroken que foram cantados em coro altíssimo pelos fãs. Músicas de melodias sensíveis e letras de amor triste ou feliz, levaram um show de 1h20min de duração, com direito a um bis (meio forçado pelo público, sendo sincera) de três músicas. Mesmo com toda simpatia que tenho pela banda, senti uma falta de presença de palco e um ar meio “eu sou autista” por parte de Tracyanne. Ou até, olhando por outro lado, um profissionalismo de apenas cumprir a missão de apresentar uma quantidade "X" de músicas e até mais. Mas faço das palavras do menino desconhecido as minhas: “É só porque a banda é gringa!” (Será?)
Tanto a Camera Obscura, quanto o festival e a produção do evento aqui de Recife, realizaram tudo da mais perfeita forma. Desses três, dou todo mérito a todos da produção Coquetel Molotov, que tiveram a ideia de realizar esse show no Club Nox, que é o ambiente ideal para shows de qualidade musical e estrutura perfeita para o público e banda. Todos sabem que falta na cidade uma casa de show que tenha uma boa estrutura tanto pras bandas quanto pro público e uma acústica de qualidade. Muitos eventos acontecem nos locais sem estrutura como o Eufrásio, Armazém 14, Burburinho e entre outros, por um certo preconceito (se é assim que posso dizer) do “público alternativo” por não quere freqüentar certos tipos de lugares e também, pelos próprios produtores musicais que se acomodam nos mesmo ambientes. Espero que futuramente alguém se ligue nessa falta de espaço e abra um ou que continuem realizando eventos em locais melhores. 

terça-feira, 25 de maio de 2010

A MPB com muito$ cifrõe$

A Música Popular Brasileira me impressiona cada vez mais. É gaia pra todo lado, beber até cair, fumar para ficar chapado, de saia e sem calcinha na bicicletinha, eu sou o lobo mal e vou te comer... É isso! Pra mim, MPB é aquele tipo de música que chega nas rádios das palafitas ao castelo de ouro do milionário. Nada contra, pois existe todo tipo de gênero musical para todo o tipo de pessoa. Quem sou eu pra julgar alguém? Mas não venha me dizer que a MPB é feita pelos artistas de épocas atrás e nem por novas revelações super conceituadas (ou não), que não é. Exemplo melhor para uma cantora da mass media? Claudia Leitte.
Ela já foi do Babado Novo, é atriz (?), compositora, agitadora cultural, musa do carnaval da Bahia, discípula de Ivete Sangalo, concorrente de Ivete Sangalo, é a única cantora brasileira a participar do disco oficial da Copa do Mundo de 2010 e agora é a Famo$a do universo. Isso, Famo$a, cheia de cifrões para esse universo todo saber mesmo.
Pra quem não sabe, Famo$a é o primeiro single da cantora que promove seu novo disco As Máscaras, pela gravadora Sony Music. Trata-se de uma versão da música Billionaire, do compositor americano Travie McCoy, ex-vocalista do grupo de hip-hop Gym Class Heroes. A versão foi escrita pela própria Claudia Leitte e fala de um mundo bem Chic, Chic, da Kelly Key. Não entenderam? Eu explico (ou melhor, Kelly Key):
Eu quero ser famosa, ser uma grande artista, gravar comercial, ser capa de revista
Eles vão ver só quando minha música tocar, vou dar maior gritão, ahhhhh
Eu vou passar batom, chic...chic...chic...chic...
Eu vou ficar bonita, chic...chic...chic...chic...
Segura. Eu vou rebolar, vou rebolar, vou rebolar
Eu vou passar batom, chic...chic...chic...chic...
Eu vou ficar bonita, chic...chic...chic...chic...”

Só que o tempo passa, as vontades mudam, as informações são avassaladoras e Claudia Leitte não quer apenas passar batom, ser capa de revista, nem ser chic como Kelly Key queria! Nem o céu é o limite para ela. Famo$a é um axé/hip-hop/pop/brasileiro, que fala desejos do cotidiano em que vivemos. Calma!
Primeiro ela quer ser famosa, MUITO famosa, ficar mais rica que os dez vencedores do Big Brother Brasil, ter um Twitter com o selo de Verified Account, ir pro programa do Jô e de quebra, dar um selinho na Hebe Camargo. Pára por aí? Não! Ela continua querendo ser MUITO famosa, ter um carrão blindado, usar apenas Christian Louboutin e ainda ter o amor de um cara e casar com ele. Gente, em que mundo essa mulher vive? Ela quer ser mais Famo$a do que ter um amor! Só rindo!

Eu realmente não sei pra onde o mercado fonográfico brasileiro está indo. De fato, posso nem colocar a culpa na Famo$a Claudia Leitte, porque tudo que ela canta é o reflexo da sociedade capitalista em que vivemos e se existe espaço para uma música assim, é porque existe público também. Falo dela mas não deixo em branco tantos outros artistas que seguem esse mesmo mercado.

Mas o melhor mesmo seria, era se toda essa grandeza almejada na música fosse distribuída para cada ouvinte. Nêgo, eu ouvia tanto que distribuía essa riqueza com todos!

Esse vídeo dá pra sentir a essência da música. Observe a classe da cantora versus o figurino de mecânico dos bailarinos

segunda-feira, 24 de maio de 2010

Muitas onomatopéias para Calavera

Wow! Essa realmente é a sensação que pode ser descrita ao escutar o novo disco do Guizado, Calavera. Lançado esta semana pelo selo Punx em parceria com a Trama e disponibilizado para download gratuito pelo Álbum Virtual da Trama, o segundo álbum do trompetista e manipulador de efeitos e brinquedinhos eletrônicos, vem muito menos experimental que o primeiro, Punx (2008).
Calavera trouxe um Guizado menos instrumental e com uma estrutura musical mais harmônica, de arranjos de forte impacto e etnias rítmicas. As músicas continuam com a mesma identidade do músico, mas com uma liberdade maior para brincar com as influências e todos os recursos da música eletrônica e do rock. Das 11 faixas do disco, 6 são cantadas em uma atmosfera de letras solares, cheias de energias celestiais e praieiras, e dos quatro elementos filosóficos. As canções giram em torno de vozes com sobreposições e muitos efeitos, mas sem se tornarem mais importantes do que toda a construção das melodias.
Além de uma banda formada só por músicos de qualidade altíssima e que tocam em todas as faixas do Calavera, como Curumin (bateria), Rian Baptista (baixo), Régis Damasceno (guitarra), o disco ainda conta com a participação de duas moças de vozes suaves e incomparáveis: Céu em Skate Phaser e Karina Buhr em Girando. Já o lado instrumental do disco, se destacam as músicas Calavera (que se fez digna ao nome do disco, tendo menos bases eletrônicas e mais o som orgânico do trompete, da percussão e guitarra), Rolê Beleza (com um envolvimento místicos e latinos) e a instigante Asfalto Quente.
Um disco pra você viajar de corpo e mente, sozinho ou acompanhado e em total sintonia com os pensamentos, desejos, sensações e momentos. Para ouvir no amanhecer, no pôr-do-sol, com o céu estrelado ou em tempestade. 

sexta-feira, 21 de maio de 2010

SOM DA SEXTA – TOP5 #4

O SOM DA SEXTA da semana passada não aconteceu e hoje eu vou caprichar no embalo de uma moça linda, de voz sensual e gingado sofisticado. O samba é Clara Moreno, o balanço é Miss Balanço e o resultado, é um “sambalanço” de muita coisa antiga nessa atualidade musical.
Clara tem a música no sangue. Cresceu dentro de uma família de músicos, filha da cantora Joyce e do compositor Nelson Ângelo, iniciou a carreira de cantora logo cedo, participando de discos da Xuxa, Gonzaguinha e Milton Nascimento, estudou canto na França e hoje tem 6 discos lançados. Miss Balanço, o sexto da trajetória, é o seu segundo álbum gravado e lançado no mercado europeu pela Far Out Recordings (o primeiro foi Samba Torto, em 2007) e teve uma repercussão muito boa na imprensa britânica. A divulgação do disco foi primeiramente voltada pros gringos (como tem acontecido com Céu, Bebel Gilberto, Otto e tantos outros) e teve projetos gráficos e fotos diferentes. Só agora no mês de março, que a gravadora Biscoito Fino colocou nas lojas do Brasil.
Os caminhos sonoros de Clara já foram bem modificados. Após transitar pela música eletrônica, jazz, bossa nova e samba, ela habita num som mais ousado e globalizado, mas sem perder toda a essência histórica do passado sonoro e intrepretando o tal sambalanço. Ele que foi um movimento que surgiu em meados dos anos 60, em boates do Rio de Janeiro e São Paulo, que tem Jorge Ben como um dos mais significativos representantes. Digamos até, que o Miss Balanço tem um pé clássico dentro do Samba Esquema Novo (1963), do próprio Jorge. Pronto, matei a charada!
Vamos ao que interessa: música! As 14 faixas do disco conversam em total harmonia entre si, com um equilíbrio despojado, original e cool. Durante a construção do repertório, Clara encontrou influências em Wilson Simonal, Orlandivo, João Donato, Elza Soraes e o já citado anteriormente, Jorge Ben.

Sem mais delongas, TOP5 #4 Clara Moreno – Miss Balanço

5 – Bruxaria – Uma mistura de Ave Cruz (Céu) + Homem com H (Ney Matogrosso), com um tom de samba de gafieira, cheio de metais, que dá vontade de sair rodando pelo salão com um par bem aconchegante!
4 – Balanço Zona Sul – Clássico da Bossa Nova, recebe uma releitura leve e singular, que transporta o ouvinte para um Rio de Janeiro da década de 60, mas totalmente contemporâneo.
3 – Brincando de Samba (Miss Balanço) – Música título do álbum, ganha arranjos de twist, cheio de cadência do samba.
2 – Vai devagarinho – Uma das músicas mais jazzística do álbum, que dá pra sentir cada nota e harmonia de todos os instrumentos executados.
1 – Uala Ualalá – Clara conseguiu formar uma dúvida na minha mente: Qual a melhor versão? A original com Jorge Ben, no Samba Esquema Novo ou essa regravação? Dúvida cruel, porque ambas são uma riqueza para quem ouve!

Making of Miss Balanço

quinta-feira, 20 de maio de 2010

Almaz (Preciosas e Finas)


Que os meninos da Nação Zumbi, com certeza, são uns monstros, todos já sabem. Que eles levam a banda principal com toda a energia dos incontáveis projetos paralelos, isso também já é fichinha. Jorge Du Peixe é o AUTONOMO, Lúcio Maia o Homem Binário - Mundialmente Anônimo, o Maquinado, Dengue é o Djeik Sandino dos Los Sebosos Postizos e Pupillo é o Poderoso Chefão da classe musical brasileira. Ah, sem esquecer do Sonantes, 3namassa, Desliga a Bomba e o Côco de Mazuca (de Da Lua e Toca Ogan). Pára por aí?  Não, não. Fora os que eu esqueci de citar ou desconheço (quem souber mais pode apresentar!), falo agora do Almaz, novo projeto paralelo das preciosidades Lúcio Maia, Pupillo, Antonio Pinto e Seu Jorge.
O grupo surgiu durante o processo de criação da trilha sonora do longa Linha de Passe, de Walter Salles e Daniela Thomas. Antonio Pinto, um dos “almas boas”, já produziu diversas trilhas de filmes brasileiros e internacionais como Lula, o filho do Brasil (2010), Love in the Time of Cholera (2007) – indicado ao Globo de Ouro no mesmo ano, Nina (2004), Cidade de Deus (2002), Abril despedaçado (2001) e por aí vai. O Malungos da Nação Zumbi também já deram um pouquinho da sua identidade para longas-metragens como no Baile Perfumado (1997) - ainda com Chico Science vivo, Amarelo Manga (2003) e o último, Besouro (2009).
A junção com Seu Jorge foi de pura classe e requinte. Almaz, diamante em Russo, traz regravações bem pós-moderna de alguns clássicos de Jorge Ben (Errare Humano Est), Tim Maia (Cristina), Noriel Vilela (Saudosa Bahia), Kraftwerk (The Model), Altemar Dutra (Tudo Cabe Num Beijo), Nelson do Cavaquinho (Juízo Final), Michael Jackson (Rock With You), Martinho da Vila (Cirandar), Vinícius de Moraes e Baden Powell (Tempo de Amor), entre tantos outros.
Não existe nenhum disco original gravado, pois não há contrato com nenhuma gravadora no Brasil (por enquanto). Porém, existe um disco na internet com várias versões, que é só procurar e fazer o download para ouvir essa elegância do Almaz. O canal Multishow vai gravar um especial, mas ainda sem data marcada. A única certeza são os shows que vão acontecer no período de Julho e Agosto nos Estados Unidos.

Obs.: Ou você procura na internet essas pérolas ou vai ao show nas gringas ou espera qualquer notícia futura. É contigo, minha criança!

Segue aí um vídeo durante uma gravação de Pupillo, no Ambulante Studio.

quarta-feira, 19 de maio de 2010

Totalmente Demais

Que música sempre combinou com moda, todos nós já sabemos. Música é estilo, atitude e conforto. Moda é o que? Tudo isso também! 
Nos anos 70 teve a vibe Woodstock, Peace and Love; Nos anos 80 o rock foi cenário de muitos estilos urbanos; Nos anos 90 teve a explosão do Manguebeat e todas as suas vertentes estéticas que formaram o "Original Olinda Style". Enfim, do brega ao samba, do sertanejo ao psy-trance, a música sempre foi um aliado da moda e virce-versa.
A nova coleção da Arezzo é toda trabalhada no luxo das ankleboots (os sapatos da tendência!) e trás como personagens principais as novas musas da MPB: Ana Cañas, Maria Gadú, Mariana Aydar e Roberta Sá. As quatro cantoras vêm se destacando cada vez mais no cenário brasileiro com suas propostas musicais diferentes e se tornaram as rock stars da nova campanha de sapatos e acessórios.
Totalmente Demais é o tema e a essência dessa nova coleção. A música é da banda Hanói-Hanói, gravada em 1986 e chegou a ser regravada por Caetano Veloso tempos depois. A Arezzo caprichou na produção desde das meninas, dos sapatos e principalmente, na regravação da música. Cada pedacinho cantado se encaixam no perfil das divas contemporâneas, tanto nos tons quanto nas estrofes escolhidas para cada, e a melodia ficou leve e cool. Tudo na medida certa e totalmente demais!


 

Tudo Fino e na Coletividade!

O primeiro álbum, homônimo à banda, lançado em 2007, rendeu ao Fino Coletivo o prêmio de “Melhor Grupo”, pela Associação Paulista dos Críticos de Arte (APCA). Sim, os alagoanos quase cariocas mereceram. No mês de abril, três anos depois, eles lançaram pelo selo Oi Música, o Copacabana.
Eles tem uma classe tanto coletiva quanto musical. O disco apresenta muito swing, com ritmos que vão do funk carioca ao xote nordestino e do rap ao samba extremamente pop. Isso, esse novo disco é todo pop e “peca” em absorver tantas regravações. Das 14 faixas, três são regravações de Wado (Beijou Você, A Coisa Mais Linda do Mundo e Se Vacilar o Jacaré Abraça), uma dos Novos Baianos (Swing de Campo Grande), que foi vencedora de um concurso na OI FM e outra de Totonho & Os Cabra (Nhem Nhem Nhem). O fato de existir um elo entre a banda e Wado, ao meu ver, se torna uma dependência eterna, fazendo disso, uma certa falta de identidade própria para o Fino Coletivo. A qualidade sonora da banda num todo existe, mas falta lapidar essas joínhas de um modo que eles consigam seguir um caminho sem ter um vínculo tão forte de influências musicais nem artistas já consagrados.
A música de trabalho chama-se Ai de Mim e segue no balanço “samba-amor-pop”, cheio de vozes e pronta pra grudar na mente de quem ouve. Como freqüentadora assídua dos shows do Fino Coletivo em Recife, ao ponto de fazer reverencia quando eles cantam Na Maior Alegria, acredito na potencialidade dos meninos em palco e espero mudar um pouco a impressão que tive sobre esse disco.

Por participar do selo OI FM, a divulgação de Copacabana está bem ativa.

Fino Coletivo em:

Twitter: @finocoletivo
Promo:

domingo, 16 de maio de 2010

A flor dessa estação

A cada estação do ano surgem novas cantoras na música contemporânea brasileira e a flor dessa primavera chama-se Tulipa Ruiz. Ela canta, compõe, desenha e é efêmera, se tornando quase a Super Mulher de Jorge Mauter. Embora venha de uma família de músicos – o pai é Luiz Chagas (ex-guitarrista da Isca de Polícia, de Itamar Assumpção) e o irmão Gustavo Ruiz (músico), Tulipa só transformou seu hobby em profissão há praticamente um ano atrás, conseguindo status na cena paulistana e lançando agora um disco que ultrapassa a delicadeza de sonoridade permitida.
Efêmera é de fato bem transitório e ilusionário. As linhas que o percorrem são bem distintas mas que no fim, se encontram em forma sensível de arte. As participações acontecem desde da produção (feita pelo seu irmão), passando pelo encarte disco (que conta com várias tulipas desenhadas por Karina Buhr, Ná Ozzetti, Thiago Petit, entre outros), até na parceria mais que amigável de inúmeras flores e plantinhas da classe musical. Que jardim é esse? Então: Mariana Aydar, Tiê, Negresko Sis (um trio lindo formado por Céu, Thalma de Freitas e Anelis Assumpção), Kassin e por aí vai. O som da sua voz é doce e as 11 canções são repletas de poesias malemolentes e femininas, com um pouquinho de bom humor e quase nada de baixo astral – ok, pois o amor nas músicas de hoje em dia está cada vez mais sofrido, né?
Passando pelo lado sonoro e dobrando para seus desenhos bem estilo “fiz no paint”, descobri uma alegria de menina com legendas musicadas de uma mulher meio Tropicalista, Secos e Molhados, Doces Bárbaros e Novos Baianos. Assim, mostrando a personalidade de uma Tulipa que no passado plantou boas sementes e agora está  colhendo frutos melhores ainda.

Obs.: O disco só será lançado de fato, no dia 30 de maio, com um show no Auditório Ibirapuera, em São Paulo. Mas como estamos na era digital, onde no começo da carreira Tulipa fez de seu Myspace um quadro de escrever e colorir, o disco vazou na internet e eu cai nessa rede também! Com toda certeza, será um dos álbuns mais falados no ano de 2010.

Tulipa Ruiz on Twitter: @tuliparuiz


quinta-feira, 13 de maio de 2010

Saravah pra quem é de Saravah!

Você sabe o que é a Música Popular Brasileira? Consegue perceber as raízes sonoras e influências harmônicas? Reconhece alguns nomes da constelação que pertenceu às décadas de 40, 50, 60? Bem, eu não estou aqui para lhe responder essas perguntas e sim, para falar de um patrimônio histórico da música brasileira. Vos apresento: Saravah, um documentário do diretor francês Pierre Barouh. Esteticamente falando, não se trata de um material para cineastas, mas para aqueles que têm a música nos olhos e a vida nos ouvidos.
Em fevereiro de 1969, Barouh desembarcou no Rio de Janeiro para filmar o carnaval e a música do Brasil, com a pretensão de conhecer o desconhecido aos olhos de um estrangeiro. O registro tem uma mera semelhança com a estrutura do documentário “Novos Baianos F. C.”, de 1973, dirigido por Solano Ribeiro, tanto pela época quanto na forma simples que foram captadas as imagens, onde os personagens principais dialogam livremente entre todos os argumentos. Mas em Saravah, quem são esses personagens principais? Pixinguinha, João da Baiana, Maria Bethânia, Baden Powell e Paulinho da Viola. Isso mesmo, a introdução para a resposta das perguntas acima começam agora.
Escolas e compromissos diferentes, palavras ditas por Paulinho da Viola, entre gerações fundamentais da arte brasileira. De início, Pierre Barouh nem tinha a real noção do que estava fazendo mas conseguiu depoimentos ricos sobre a influência do jazz e da cultura africana portuguesa (macumba) versus a francesa (candomblé) na construção da composição musical dos afro-sambas de Baden Powell; A presença leve e completa de Pixinguinha e João da Baiana, alicerce de tudo e todos;  Flagrou uma Maria Bethânia, na flor dos seus 21 anos, esbanjando toda beleza de uma cantora brasileira, de olhos sorrindo ao falar de Caetano Veloso (na época, exilado em Londres). Tudo isso com paladar de música de qualidade, de momentos em ensaio e descontração, com palavras singelas e de uma importância ímpar. Um jovem Paulinho da Viola compositor de escola de samba da Portela à uma Maria Bethânia que vibra e sente cada música cantada. O Baden Powell que fala dos orixás e salva os brancos e pretos do país ao Pixinguinha que toca num cinema de Paris ou no botequim do subúrbio carioca. Imagens que servem como um estudo para alma e alimento para o conhecimento de preciosidades que compõe o nosso país.
A trilha sonora é mesclada com imagens preciosas. Canto de Iemanjá (Baden Powell e Vinícius de Moraes) vem praieira, Yaô (Pixinguinha e Gastão Vianna) bem mitológica, Coração Vulgar (Paulinho da Viola) mostra que o verdadeiro amor nunca fenece, Baby (Caetano Veloso) e Frevo nº1 (Antonio Maria) apresentam a Maria Bethânia de expressão teatral e Tempo de Amor (Baden Powell e Vinícius de Moraes) bebe o riso final que abriu no meu rosto a cada minuto deste acervo.
Termino o texto e metade da resposta sobre minhas perguntas iniciais, com as palavras de Pierre Barouh e Baden Powell:
“João Gilberto, Carlos Lyra, Dorival Caymmi, Antônio Carlos Jobim, Vinícius de Moraes, baden Powell, autor dessa melodia que vocês estão escutando, minha saudação à todos vocês. Por muitas vezes quis beber até ficar embriagado, para melhor delirar sobre todos aqueles que me fizeram descobrir  e que fizeram do samba o que ele é. Saravah! Pixinguinha, Noel Rosa, Silvio Monteiro, Dolores Duran, Cartola e tantos outros. E todos os que surgem, todos os novos artistas – e há muitos. Edu Lobo, Dori Caymmi, Chico Buarque de Hollanda, Caetano Veloso, Maria Bethânia (...) Saravah! Graças a todos eles há uma palavra que eu nunca mais poderei pronunciar sem me arrepiar. Uma palavra que sacode um povo inteiro e faz com que todos cantem com as mãos para o céu: samba!”


Coração Vulgar - Maria Bethânia e Paulinho da Viola
Frevo nº 1 - Maria Bethânia
Tempo de Amor - Baden Powell e Márcia

domingo, 9 de maio de 2010

Para alimentar a alma.

Eu tenho juízo mas não uso. É impressionante como as pessoas me dizem isso. Mas sabe, eu tenho! Apenas sei o momento certo de usa-lo, pois o tempo todo é muito ruim. Porque, de fato, o importante é a postura que a pessoa assuma. No mais, a diferença é nenhuma!
Pra mim, felicidade não precisa de culpa. Ela simplesmente é higiene mental, um exercício da alma. Sou muito sonhadora e sei que amanhã pode ser tarde pra recuperar o tempo que eu passo sonhando acordada com a felicidade. Eu topo tudo pra chegar no primeiro lugar que eu nem sei, mas deve, ser melhor do que aqui.
Sou uma mulher calada, que assiste tudo com atenção. Uma vagabunda globalizada, mas que move o mundo apenas sendo sentimental. Eu tenho classe, valho ouro e o peso que tenho. Não é à toa que sou o mistério do fundo do olho. Meu samba é guerreiro e pede avenidas! Quando estou feliz, tenho o sorriso maior que a boca: AUMENTA O VOLUME DO SORRISO DELA! Quando estou triste, fico transparentemente não afim de nada: PODE GRITAR QUE ELA NÃO ESCUTA!
Pobre, feliz de mim.
Tudo que eu toco se transforma em lembrança porque sei que atirador tarda, mas não falha.
Fui abduzida pelo fio do walkman e no meu ouvido só toca a mesma canção. É aquela que diz: “Só um pouco do que eu sinto por você, daria pra tapar o sol”. Claro, se eu olho pro sol é pra cegar o juízo... Também, não tem como fechar o olho pra você.
Eu tenho medo que esse tanto amor seja tragado pela boca leviana da cidade. Nós selamos um compromisso sem que seja reveillon, sem nenhum ano bom. Já prometemos um ao outro que nos casaríamos e formaríamos um casal de fino trato. Que vamos ter do bom e do melhor pra beber e pra fumar.  Um filho mulato, mas quem sabe quatro. Ah, claro, um chalé a beira mato!
Aí, realmente era tudo que eu queria! Um tempo da gente ficar junto, um tempo de eu enlouquecer com você. Que eu pudesse realmente dizer: GRUDA! Trance em mim, cresça sobre mim.
Placas que agora se chocam, estavam unidas instantes atrás. Os bêbados na padaria não sabem a falta que você me faz. Remorsos rondam a cama. Solidão, psicodrama, conversa pra boi dormir é só eu que tô sem você. Os dias têm menos dia de sol. Dias curtos, pro meu coração burro que ta numa garrafa de vidro.
O amor é desumano, duvidando sem saber e crescendo na ausência, na urgência de querer. Às vezes me pego pensando no nosso barco de flores, no nosso giro aos arredores rumo ao centro do prazer, na nossa casa, no nosso sonho de voar o mundo afora... Mas como tem passado pra esquecer!
Por isso que eu me privo e te guardo no pensamento intacto e feliz pra sempre.  Porque eu também sei que fica mais fácil você gostar de mim quando eu não estou. Mas ao mesmo tempo, você, se pede pra me ver, parece compaixão, parece pena, perdão... Não sei, não sei!
Todo mundo faz um filme com a lente da mente, cada ser tem sonhos a sua maneira. Minha vontade maior era de dizer: Adeus, um beijo pra você, a gente se vê... Se der! Mas eu não consigo! Se eu não sei viver sem ele, então meu plano morreu.
Mas também, quando você aparece, a flor do sentimento volta a abrir. E demoramos num beijo, perdemos a voz, a língua, a noção... Depois nossas roupas ficam suadas no tapete, esquecida de nós... E eu te peço pra ficar no mínimo, no máximo uma noite, porque é de um pouco disso tudo que eu preciso. Tudo basta! Basta que sacie a sede de amor.
Nosso romance sempre é um belo, estranho dia de se ter alegria. Porque do nada, acontece uma revolução no meu mundo particular e o que eu mais desejo, é juntar tudo de nós dois, chegar no mar e jogar! Deixar que a maré me leve pra longe, onde a memória e teu nome me foge.
Mas novamente, eu não consigo! Todo grande amor vem de um coração burro e puro, e todo meu argumento fica sem assunto. Porque é amor. Porque eu sou o amor!

Enfim, pode aproximar. Só deixa o último minuto da história pra mim!

sábado, 8 de maio de 2010

A tentativa de auto-afirmação: Sandy Leah em Manuscrito.

O disco solo de Sandy Leah, Manuscrito, foi lançado oficialmente nesta última sexta-feira, dia 7. Mas antes disso, as músicas já caíram na rede e muito disse-me-disse tem acontecido por aí. Como uma boa usuária de downloads, ouvi esse álbum com certa atenção para tentar ter boas impressões. Mas de fato, a única sensação que tive foi a de que Junior sempre ia entrar na segunda voz!
Manuscrito segue na mesma linha do passado musical da dupla Sandy e Junior, sem muitas evoluções nem amadurecimento fora da linha teen. O disco apresenta 13 músicas inéditas, quase todas compostas por Sandy e em parcerias com Lucas Lima e Junior. Os arranjos têm uma qualidade bem harmônica, mas apresentam composições sem muito sentido de vida. Posso dizer também, que todas na maioria das músicas, são apresentadas letras de auto-afirmação da personalidade da cantora, meio que numa sequência do clássico da dupla “Imortal”: “Eu cresci agora, sou mulher”. Sem surgir muito efeito audível e dando uma continuidade bem like a princess que ela sempre demonstrou. Afirmando assim, que tanto a identidade em dupla quanto agora na de carreira solo, Sandy sempre esteve mais em foco na atividade artística – diferente do irmão, que se rebelou e seguiu outra vertente, se assim pode dizer. Acho que o plano de voo da cantora para o mundo adulto ainda não chegou e o tom infantil em sua sonoridade é ainda muito presente. Vai demorar um bom tempo para o público, a mídia e ela própria, se desvincularem desse passado Sandy e Junior. Mesmo assim, sucesso para a diva pop brasileira!

SOM DA SEXTA – TOP5 #3

Começo afirmando que não conhecia Sarah Blasko. Durante as conversas da madrugada, que geralmente são as mais produtivas, um amigo me apresentou e eu fiquei vidrada pela doçura de sua voz, um tanto quanto suave, poética e melancólica. Fui atrás de algum disco para baixar e achei As Days Follows Night logo de primeira e gostei mais ainda quando olhei a capa - às vezes gosto mais da arte do disco do que do próprio conteúdo. Acontece com vocês? Enfim, depois comecei a pesquisar um pouco e descobri que esse é o terceiro trabalho (The Overture & The Underscore e What The Sea Wants, The Sea Will Have, são o primeiro e o segundo respectivamente)  da premiadíssima cantora Australiana, de uma forte identidade sonora.
As Days Follows Night é um disco de arranjos nostálgicos, se assim posso definir. Dentro de todos os processos de criação até a conclusão da música, sinto um prazer enorme em conseguir ouvir cada instrumento na hora certa, sabe? Nesse álbum, além da leveza da voz de Sarah Blasko, são bem receptíveis as entradas dos instrumentos como cordas e sopro, pianos, bateria,  percussão. Um tom musical clean de se escutar.
Escolher o TOP5 do SOM DA SEXTA foi um pouco difícil pra mim, porque grande parte das músicas são uma delícia de se escutar. Mas consegui fazer uma pequena seleção e mostrar quais me agradaram mais. Você pode também ouvir o álbum e me dizer suas favoritas, que tal?






SOM DA SEXTA – TOP5 #3

5 - No Turning Back
4 - I Never Knew
3 - We Won't Run
2 - Hold On My Heart
1 – All I Want

quinta-feira, 6 de maio de 2010

Sons, cores e sensações.

Cibelle Cavalli é Sonja Khallecallon e sua banda Los Stroboscopious Luminous, artistas de um “show de cabaret pós-apocalíptico tropical punk”. É assim mesmo que a própria Cibelle a define em seu terceiro disco, Las Vênus Resort Palace Hotel, numa entrevista para um site de Portugal. Além do mais, ela ainda afirma que seu “mau gosto”, foi o que a levou a construir esse disco. Que mau gosto, hein?

Com influências tão diversas como Mutantes, Nina Simone, Billie Holiday, Bjork e Jackson do Pandeiro, Cibelle é uma estrela em ascendência. Ela está incluída na classe dos artistas que alcançaram um reconhecimento muito maior no exterior do que no Brasil. Muitos críticos a chamam de musa da pós-bossa-nova. Mas o que ela é mesmo, é uma tropicalista de fino trato!  A sonoridade de Cibelle, é bem distinta e completa, reflexo de sua independência musical e artística. 

Engraçado que no primeiro e o segundo álbum, Cibelle e The Shine of Dried Electric Leaves, respectivamente,  sempre foi possível encontrar uma imagem visual em sua música. Pode ser devido ao estilo colorido e cheio de informações que ela apresenta e que não vou mentir, ela pode ser considerada um ícone fashion da moda (a vejo phyna tal qual Dudu Bertholini, estilista da Neon).


Esse terceiro álbum é bem mais universal do que os dois primeiros – que tinham uma carga grande de Caetano Veloso e Tom Jobim. Las Vênus Resort Palace Hotel é mais orgânico, leve e colorido. Mais limpo e menos sampleado, sabe? Dançante também, porque ouvir “Undermeath the Mango Tree” e não se imaginar dançando um ula-ula cheia de colares havaianos e “Mr and Mrs Grey” sem dançar um twist, é um pecado! Ah, brega, vulgar e fatal, como em “Braid My Hair” peça chave para o cabaret de Sonja Khallecallon e Los Stroboscopious Luminous. É um disco de texturas e imaginações sonoras. Gosto muito de Cibelle cantando em português, mas nas duas músicas do disco (“Escute Bem” e “Sapato Azul”), eu tive a sensação de estar ouvindo Vanessa da Mata. Ou será que me enganei?! Já em "Sad Piano" percebi uma certa continuidade da regravação de "Cajuína" do segundo disco. Mas mesmo assim, dá pra sentir um crescimento musical desde do primeiro disco até esse novo. Mostrando que mesmo havendo comparações, cada um tem uma sonoridade diferente.  “Lightworks” é o primeiro single do disco e pelo clipe dá pra sentir essa selva tropical meio kitsch e sexy.