Vivemos em um Brasil onde cultura e política caminham lado a lado, de
mãos dadas. A arte influência a história, que assim, cronologicamente, se
repete a cada mudança de década. De todas as expressões artísticas, a música é
uma das criações que mais mexe com os cinco sentidos do ser humano. É a fala
para os olhos e o toque da pele para os ouvidos. Tudo isso com cheiro de
lembrança que traduz a luta de um povo e conquista de um mundo que não precisa
ser perfeito, mas apenas justo.
O jovem representa a camada
catalizadora de informação da construção de uma sociedade, onde os filtros têm
embasamentos criteriosos e revolucionários. Durante metade da década de 60 e
início dos anos 70, tivemos um país em transformação político-social, onde a
ditadura, censura e repreensão, foram decisivos para a mudança de um Brasil
militar. Dentro desta época, jovens e artistas se juntaram para colocar o bloco
na rua e modificar essa situação alarmante em que viviam. Era invasão e criação
ao mesmo tempo, em busca da liberdade de viver na antropofagia brasileira. Eles
organizaram o movimento, lutaram contra a política e se tornaram porta voz de
uma nação. Nesta época, a cantora baiana Gal Costa, apresentava seu disco “Gal
Fa-tal / A Todo Vapor” e cantava em uma grande temporada na arena do Teatro Tereza
Rachel, Rio de Janeiro, o grito de guerra daquela era: “Não se assuste pessoa,
se eu lhe disser que a vida é boa (...) Enquanto eles se batem, dê um rolê e
você vai ouvir”.
As gerações mudam, os ídolos
se reciclam, a economia tem altos e baixos, presidente brasileiro sofre impeachment,
os jovens pitam a cara e mais uma vez fazem o quê? Vão às ruas, invadem a sua
praia, como cantava a banda de rock Ultraje a Rigor. As cidades crescem, o
morro desce o asfalto, a mídia alcança mais espaço e cada vez mais se confirma
o poder da música como expressão número um povo. Era o rock BR dos anos 80 que
expressava esse momento. Cazuza buscava por ideologia, Renato Russo indagava o
país, os Titãs batiam de frente com a polícia e os Paralamas do Sucesso
traduziam os barracos, palafitas e antenas de TV.
Ocupar o espaço físico e
cibernético era o que o mangueboy Chico Science queria no “passeio pelo mundo
livre”. Ele também organizou um movimento e retratou a cidade, a cultura e
pobreza, não especificamente só do nordeste, mas sim um Brasil total. Um
“rolezinho” que não vinha só da periferia e que transformou uma geração que
recebia de forma avassaladora a globalização. Sendo assim, as histórias se
repetem e a arte imita a vida (virce-versa). Vivemos em um anos 2000 na qual lá
pelos anos 90, o grupo de maior fama em menor tempo de vida, Mamonas
Assassinas, retrata a atualidade com a música “Chopis Centis”. É comprovação do
caminhar paralelo entre música e política, pois como eles diziam: “Quanta
gente, quanta alegria. A minha felicidade é um crediário nas Casas Bahia.”