Tom Zé nasceu em Irará, interior da Bahia, foi pra Salvador e estudou música na Universidade Federal da Bahia. Depois partiu rumo ao Rio de Janeiro e “São São Paulo meu amor”, se tornou um dos tropicalistas mais satíricos e inovadores, e posteriormente, foi “salvo” por David Byrne pelo seu exotismo estrangeiro. Não, não foi só esse seu papel na MPB. Tom Zé nos proporcionou o prazer de sentir que a música é sim atemporal.
Em 1976, um tempo depois de seu primeiro disco de 1968, lançado pela Rozemblit, do prêmio do Festival da Canção também do mesmo ano e do fim do movimento tropicalista, Tom Zé lança um disco que passou despercebido pela crítica nacional até o fim da década de 80: Estudando o Samba.
Tudo começa pela simples capa: arame farpado entrelaçado à corda de violão e o nome samba em destaque. Um convite para o completo que seria encontrado naquelas doze faixas de estudos dedicados às avessas (ou não) por Tom Zé.
Como um bom estudo, Tom Zé convidou o sambista Elton Medeiros para participar de algumas gravações, transformando a matéria bruta em perfeição (se assim pode dizer). O Índice está presente para construir (reconstruir ou desconstruir, pois é a última faixa do disco) a direção desse conhecimento:
“A felicidade
só dói
só dói se (Toc!)
mã
mãe
tô só
dói mãe (Hein?)
ui!”
só dói
só dói se (Toc!)
mã
mãe
tô só
dói mãe (Hein?)
ui!”
Existe de tudo nessa disciplina do samba. Samba-canção - Só (Solidão), samba de raiz – Dói, Ui! (Você Inventa), Mãe (Mãe Solteira), chorinho – Se, cantiga de roda com uma raiz negreira – Mã e até as que terminam desabando um pouquinho pro lado do maxixe – Vai (Menina Amanhã de Manhã), Hein?. Há também aquelas músicas que são consideradas pós-modernas – Toc, que são de poesia paradoxal e literalmente feita para poder ignorar todas as informações desse estudo – Tô. Um dos maiores temas abordados, é A Felicidade, de Tom e Vinícius. Tom Zé conseguiu expressar ao pé da letra, cada palavra que compõe essa canção, se tornando (na minha opinião) uma das regravações mais bem interpretada desse clássico da bossa-nova.
Não pode deixar de citar também, de toda a ligação existente dos nomes das músicas do disco dentro das outras composições, de uma maneira bem visível. (Não tirando só Índice como exemplo)
Não pode deixar de citar também, de toda a ligação existente dos nomes das músicas do disco dentro das outras composições, de uma maneira bem visível. (Não tirando só Índice como exemplo)
Esse encontro do samba, erudito, regional e todos os caminhos dessa obra experimental e atemporal de Tom Zé, não foi o suficiente para aquela época. Ele acabou sendo afastado e digamos, escanteado pelo grande público. Como foi dito logo no começo, o reconhecimento só aconteceu quando David Byrne (ex-Talking Head) se encantou pela simples capa do disco em um sebo no Rio de Janeiro. O que aconteceu? Tom Zé ganhou o mundo e o disco foi aclamado pela imprensa internacional (The New York Times, Le Monde, Rolling Stones).
Até onde vamos chegar sem perceber a verdadeira qualidade sonora existente no Brasil? Será que somente quando atingirmos o tal ‘conhecimento mundial’? Fica essa a reflexão quanto ao real valor do nosso nacionalismo musical.
Mas a questão toda aqui, não é discutir valores nem qualidade, e sim, observar com delicadeza esse grande disco. Após 34 anos, essa sonoridade presente no Estudando o Samba é mais que atual. O prazer da música é esse. É ver que mesmo com tanta mudança de ritmos e de culturas, as verdadeiras obras musicais nunca são esquecidas, nem deixadas de lado. Pode haver novas versões dessas canções, mas nada será comparado à peculiaridade de Tom Zé e sua ousadia musical que vai além.
Pra vocês, alguns marcos desse estudo fantástico do samba:
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