quinta-feira, 13 de maio de 2010

Saravah pra quem é de Saravah!

Você sabe o que é a Música Popular Brasileira? Consegue perceber as raízes sonoras e influências harmônicas? Reconhece alguns nomes da constelação que pertenceu às décadas de 40, 50, 60? Bem, eu não estou aqui para lhe responder essas perguntas e sim, para falar de um patrimônio histórico da música brasileira. Vos apresento: Saravah, um documentário do diretor francês Pierre Barouh. Esteticamente falando, não se trata de um material para cineastas, mas para aqueles que têm a música nos olhos e a vida nos ouvidos.
Em fevereiro de 1969, Barouh desembarcou no Rio de Janeiro para filmar o carnaval e a música do Brasil, com a pretensão de conhecer o desconhecido aos olhos de um estrangeiro. O registro tem uma mera semelhança com a estrutura do documentário “Novos Baianos F. C.”, de 1973, dirigido por Solano Ribeiro, tanto pela época quanto na forma simples que foram captadas as imagens, onde os personagens principais dialogam livremente entre todos os argumentos. Mas em Saravah, quem são esses personagens principais? Pixinguinha, João da Baiana, Maria Bethânia, Baden Powell e Paulinho da Viola. Isso mesmo, a introdução para a resposta das perguntas acima começam agora.
Escolas e compromissos diferentes, palavras ditas por Paulinho da Viola, entre gerações fundamentais da arte brasileira. De início, Pierre Barouh nem tinha a real noção do que estava fazendo mas conseguiu depoimentos ricos sobre a influência do jazz e da cultura africana portuguesa (macumba) versus a francesa (candomblé) na construção da composição musical dos afro-sambas de Baden Powell; A presença leve e completa de Pixinguinha e João da Baiana, alicerce de tudo e todos;  Flagrou uma Maria Bethânia, na flor dos seus 21 anos, esbanjando toda beleza de uma cantora brasileira, de olhos sorrindo ao falar de Caetano Veloso (na época, exilado em Londres). Tudo isso com paladar de música de qualidade, de momentos em ensaio e descontração, com palavras singelas e de uma importância ímpar. Um jovem Paulinho da Viola compositor de escola de samba da Portela à uma Maria Bethânia que vibra e sente cada música cantada. O Baden Powell que fala dos orixás e salva os brancos e pretos do país ao Pixinguinha que toca num cinema de Paris ou no botequim do subúrbio carioca. Imagens que servem como um estudo para alma e alimento para o conhecimento de preciosidades que compõe o nosso país.
A trilha sonora é mesclada com imagens preciosas. Canto de Iemanjá (Baden Powell e Vinícius de Moraes) vem praieira, Yaô (Pixinguinha e Gastão Vianna) bem mitológica, Coração Vulgar (Paulinho da Viola) mostra que o verdadeiro amor nunca fenece, Baby (Caetano Veloso) e Frevo nº1 (Antonio Maria) apresentam a Maria Bethânia de expressão teatral e Tempo de Amor (Baden Powell e Vinícius de Moraes) bebe o riso final que abriu no meu rosto a cada minuto deste acervo.
Termino o texto e metade da resposta sobre minhas perguntas iniciais, com as palavras de Pierre Barouh e Baden Powell:
“João Gilberto, Carlos Lyra, Dorival Caymmi, Antônio Carlos Jobim, Vinícius de Moraes, baden Powell, autor dessa melodia que vocês estão escutando, minha saudação à todos vocês. Por muitas vezes quis beber até ficar embriagado, para melhor delirar sobre todos aqueles que me fizeram descobrir  e que fizeram do samba o que ele é. Saravah! Pixinguinha, Noel Rosa, Silvio Monteiro, Dolores Duran, Cartola e tantos outros. E todos os que surgem, todos os novos artistas – e há muitos. Edu Lobo, Dori Caymmi, Chico Buarque de Hollanda, Caetano Veloso, Maria Bethânia (...) Saravah! Graças a todos eles há uma palavra que eu nunca mais poderei pronunciar sem me arrepiar. Uma palavra que sacode um povo inteiro e faz com que todos cantem com as mãos para o céu: samba!”


Coração Vulgar - Maria Bethânia e Paulinho da Viola
Frevo nº 1 - Maria Bethânia
Tempo de Amor - Baden Powell e Márcia

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