segunda-feira, 28 de junho de 2010

Show do Maquinado no Arraial da Tomazina

O São João no Nordeste tem uma importância enorme assim como o Carnaval no país inteiro. Entre uma overdose de forró estilizado versus o pé-de-serra, a Prefeitura do Recife seguiu com a 7ª edição do Arraial Tomazina, no Recife Antigo, se tornando o encontro exato e diversificado para aqueles que queriam fugir do xenhennhem junino.
Em quatro dias de evento, cerca de 20 mil pessoas assistiram aos shows que variaram do pop, rock à eletrônica. Um dos principais nomes da programação apresentou seu novo show na quinta-feira (24) e foi de rachar o chão.
Ele é Maquinado ou Homem Binário ou o Mundialmente Anônimo ou Lúcio Maia. Escolha qualquer codinome e com certeza não haverá diferença. O Maquinado é o projeto paralelo de Lúcio Maia, da Nação Zumbi e do melhor guitarrista do Brasil (e viva a mania de grandiosidade do pernambucano!). Mundialmente Anônimo, seu segundo disco lançado, é diferente do primeiro, Homem Binário, e apresenta menos batidas eletrônicas, uma guitarra que vem acompanhada de uma percussão bem swingada e um Lúcio Maia não só músico e arranjador, como compositor também.
Ao ouvir o disco, logo de cara você sente um astral maravilhoso. A mistura de várias referências étnicas é totalmente perceptível e conexa. Agora imagina o show?
Bem, primeiramente foi o lançamento do disco aqui em Recife. Todas as expectativas tanto do próprio Lúcio quanto do público eram enormes. O show começou ao som do clássico de Jorge Ben, Zumbi, mas com a contemporaneidade da versão do Maquinado. “Ei, você que está me ouvindo! Você acha que vai conseguir me agarrar? Pois então tome!” E “tome” mesmo! O som projetado por Buguinha, estava altíssimo como se era de imaginar. O eco tomou conta do Recife Antigo e o show confirmou toda a potência do novo disco. Dandara, Bem Vinda ao Inferno, Girando ao Sol e Pode Dormir, todas compostas por Lúcio e com letras completamente deliciosas, foram tocadas e recebidas pelo público com total intimidade.  
Alternando entre o Mundialmente Anônimo e alguns sucessos do Homem Binário, como Vendi a Alma e O Som, o show também contou com a “presença” de alguns mestres da música brasileira e mundial, como Bob Marley, Nelson Cavaquinho e Jimi Hendrix. Ao tocar Super Homem Plus, com uma versão totalmente diferente da original do Mundo Livre S/A (e muito melhor, na minha singela opinião), Lúcio afirmou que Fred 04 é um dos principais compositores brasileiros e que poucos sabem disso. Acho que não, pois o próprio Fred, que estava na platéia, foi ovacionado junto à declaração de seu companheiro de Manguebeat.
Além de Buguinha, já citado anteriormente, a banda que acompanha o Maquinado é chinfrosa tal o qual. Os “instigados” Regis Damasceno (guitarra) e Rian Batista (baixo), mais PG (DJ), Gustavo da Lua (percussão) e Beto Apnéia (bateria), dão o conjunto perfeito, junto à distorção da guitarra de Lúcio. O show, que segue do início ao fim, com uma pedrada atrás da outra, é completo e muito bom de se assistir.
Dentre todas as canções e as caras e bocas do “bonito” a cada riff novo, o que mais me agrada, além da musicalidade dele, é a classe dentro e fora do palco! Ao ouvir alguém gritar: “Toca Risoflora!”, todo trabalhado na elegância, ele respondeu: Risoflora? Meu amigo, você ta no show errado!” (ironias à parte: beeijomeliga, Lúcio Maia haha)
Seguindo o “tema” Nação Zumbi e após algumas “conturbações” como a gravação do último DVD na Feira da Música 2009, mudança de produtora e outras coisas a mais, os meninos da banda seguem cada vez mais firmes em seus projetos paralelos. Cada um com sua identidade vem fazendo um certo burburinho dentro e fora do país. Seria isso um começo para o fim da banda? Enfim, não vou falar o que não sei e embora tenho medo de saber. Medo? É, não sei! Só sei que: “JAHMARRAPARAI CELEBRAI, CELEBRAI!”

domingo, 27 de junho de 2010

O Maior Baião do Mundo em Caruaru

O último dia 23 de junho foi marcado por um encontro histórico entre o novo e o velho. Caruaru, interior de Pernambuco e capital do forró, sediou o Maior Baião do Mundo. Um tributo ao Rei do Baião, Luiz Gonzaga e a Humberto Teixeira e Zé Dantas, parceiros do Rei, com estrelas do cenário musical do Brasil.
Inicialmente, São Paulo foi o primeiro local a apresentar esse show ao público, com dois dias de casa lotada no SESC Pompéia. Sucesso absoluto e garantido!
O baião foi o primeiro movimento cultural de massa, que mistura elementos do rural e do urbano. Luiz Gonzaga fez com que a música nordestina - que até então era apenas folclore, de feiras e cantadores - se tornasse um nível de cultura popular, não industrializada, tal qual João Gilberto fez com a bossa nova. A importância do baião é enorme para a construção histórica e valorização da música brasileira. Posteriormente, o ritmo ainda influenciou o Tropicalismo de Gil e Caetano e o rock’n’roll de Raul Seixas.
Esse tributo, idealizado por Ortinho, surgiu após a exibição do documentário O Homem que Engarrafava Nuvens, dirigido por Lírio Ferreira, que relata a vida de Humberto Teixeira e conseqüentemente a história da trajetória do baião.
O show ocorreu com o melhor astral que se poderia ter, tanto pela banda, convidados e todo o público que prestigiou. Após a meia noite, um show de fogos de artifício tomou conta do céu enluarado e deu início ao novo ciclo do ano. No interior nordestino, os festejos juninos são sagrados e comemorados com todo fervor.
A banda, formada por Luiz Chagas (guitarra), Paulo Lepetit (baixo), Guilherme Kastrup (bateria), Marcelo Monteiro (sopros), Mestre Nico e Elder O Rocha (percussão) e Magoo (sanfona) deram uma classe contemporânea ao tradicional baião, que ainda contou com Vange Milliet e Rita Maria no backing vocal.
Os artistas convidados, de vozes, estilos e gêneros distintos, tiveram um encontro de almas com o baião nessa noite. O repertório escolhido teve sucessos conhecidos por todos e músicas menos populares, completando o brilho do projeto.
O show começou com Asa Branca em instrumental e teve a presença de Zé da Flauta. A expectativa no backstage era muito grande. Após uma longa viagem de Recife à Caruaru por conta do transito, os artistas estavam com uma energia acumulada para entrar no palco. De trás, a visão do mar de gente que estava no pátio do forró, estimado em 150.000 pessoas, era contagiante. Além de idealizador do tributo, Ortinho era a peça chave para o desenvolver do show. Seguro do que estava fazendo – e bem feito, ele também se tornou o “mestre de cerimônia”.
Almério e Fô, novos cantores da cena local de Caruaru, foram os primeiros a subir ao palco. Luiza Possi era só alegria dentro e fora, e cantou com uma leveza enorme Sabiá e Xote das Meninas, levando o público ao delírio. Junio Barreto, também caruaruense, mostrou que A Feira de Caruaru dá gosto de ver e tem de tudo que há no mundo. Elza Soares confirmou que realmente é uma artista completa e que o tempo caminha lado a lado ao crescimento. Com um problema no tornozelo que a impossibilitou de cantar as duas canções em pé, animou o público como ninguém. Vem Morena e Vida de Viajante, se encaixaram direitinho com a voz da Elza. Em um só coro que foi de arrepiar: Chuva e sol, poeira e carvão / Longe de casa, sigo o roteiro mais uma estação / E a alegria no coração”.
Já Zélia Duncan representou uma das composições mais linda de Gonzagão, Qui Nem Jiló. Paulinho Moska foi o responsável pela música homônima do ritmo, Baião. Moska deu sua versão doce e suave para esse clássico, ficando mais encantador. Mariana Aydar, criada com o forró, ganhou todos os meus créditos ainda fora do palco. Cantora da nova classe artistica brasileira, ela é autêntica e de forte expressão. Com um triângulo na mão, ela cantou lindamente Dança da Moda e Ovo de Codorna.
Arnaldo Antunes apareceu no show de Caruaru de última hora, no fim dos acertos de pré-produção. A princípio, ele só participaria das apresentações em São Paulo por conta de agenda. Mas a presença dele foi fundamental para o conjunto do Maior Baião do Mundo e cantou Xanduxinha com toda presença de palco que ele tem. Depois de todos os convidados, foi a vez de Ortinho entrar no palco e cantar para sua cidade natal Orélia, Chá de Cutuba, País de Caruaru e O Fole Roncou.
Ortinho estava realizado e conseguiu levar ao interior o melhor da atual MPB. Muitos acharam o tributo um pouco audacioso para o local que sempre abriga o forró-eletrizado e mercadológico. Mas posso garantir que foi um encontro rico, que trouxe para os tempos de hoje, uma musica de qualidade e propôs um baião atual, sem desentoar do tradicional. Luiz Gonzaga, desde dos primórdios, foi revolucionário com o baião e o levou do interior do Nordeste brasileiro para o mundo. Nada mais justo continuar com essa atitude e inovar cada vez mais, mas sem sair do real contexto.
Como bons pernambucanos e suas manias de grandiosidade, O Maior Baião do Mundo foi o maior encontro do clássico com o moderno, do agreste com a capital, no Maior São João do Mundo, que é em Caruaru.

sexta-feira, 11 de junho de 2010

SOM DA SEXTA - TOP5 #5

Que o Brasil é o país do futebol e da música, isso todos sabem. Em época de Copa do Mundo, os dois caminham lado a lado para a felicidade geral da nação. 
O SOM DA SEXTA dessa sexta vai ser embalado por uma trilha verde e amarelo que começou de fato no ano de 1958, com uma marchinha de carnaval que virou tema do campeonato brasileiro, A Taça do Mundo é Nossa e o bicampeonato ficou por conta de Frevo do Bi, de Jackson do Pandeiro. Já os anos 70 chegou para marcar a todos, com o hino Pra Frente Brasil, que se tornou não só a música chave da seleção, como dos 90 milhões de torcedores da época.
Na copa de 1974 e em diante, a música e o futebol, juntos, não tiveram muito sucesso. Depois disso, os hinos das copas foram agitados por músicas do cotidiano do brasileiro, como o caso do penta campeonato do Brasil em 2002, que foi ao som de Deixa a Vida me Levar (Zeca Pagodinho) e A Festa (Ivete Sangalo).
Mas grandes artistas usaram já usaram o tema futebol para compor grandes canções como Jorge Ben, Jackson do Pandeiro, Wilson Simonal e além dos contemporâneos Mundo Livre S/A, Marcelo D2 e Eddie.
Essa Copa do Mundo de 2010 vai ser embalada por que trilha sonora? Além dos palpites para o bolão dos jogos, você algum para a música desta copa? Alguns artistas do axé music tentaram emplacar “seus passes musicais”, mas não deram muito certo. Como o caso de Brasileiríssima, Jammil; Levada Brasileira; Daniela Mercury; Futiboleiro, Carlinhos Brown; Vamos N’exa, Ivete Sangalo. Claudia Leitte foi a única que se deu bem, pois o hit Máscaras caiu como um gol de letra dentro do “Listen Up! The Official 2010 Fifa World Cup Álbum”.


Outra novidade de classe altíssima, foi divulgada agora no fim de maio, como um projeto patrocinado pela Nike para um futuro documentário. Se trata da nova versão de Ponta de Lança Africano (Umbabarauma), clássico de Jorge Ben, regravado por um time de 11 craques da música: Jorge Ben, Mano Brown, Negresko Sis (Céu, Anélis Assumpção e Thalma de Freitas), Gabriel Ben Menezes, Duani Martins, Gustavo da Lua, Pupillo, Zé Gonzáles e Daniel Ganjaman.


Façam suas apostas sonoras! A minha vai para Palpita Brasil, da absoluta Stefhany! (hahaha)



Enquanto isso, segue o TOP5 #5 -  Seleção Sonora Canarinho


5 – A Bola do Jogo – Mundo Livre S/A
4 – Futebol e Mulher - Eddie
3 – Chico Buarque de Hollanda vai à Copa de 2006 – Graveola e O Lixo Polifônico
2 – Camisa 10 da Gávea – Jorge Ben
1 – Se eu não Fosse Brasileiro Nessa Hora – Novos Baianos

Já que tu ficou até o fim desse TOP5 e ficou afim de ouvir outras músicas do clima da Copa do Mundo, baixa o mixtape CAMISA 10 do DJ 440, que tá sensacional!


*Crédito da foto - Thiago Freire

quarta-feira, 9 de junho de 2010

A poesia cantada de Gero Camilo

Alguns dizem que música não é poesia, outros afirmam que sim, e classificam como “poesia cantada”. Existem sutis diferenças entre música e poesia, embora elas estejam interligadas e até a língua portuguesa ajuda nessa fusão. Mas antes de qualquer coisa eu te pergunto: O que é canção?
Certo tempo eu li uma entrevista de Luiz Tatit, cantor, compositor e professor do Departamento de Lingüística da USP, em que ele definia que canção é diferente de música e de “poesia cantada”.  Para ele, a letra e a melodia têm de passar a mesma mensagem como um encaixe perfeito e além do mais, se não houver entonação entre elas, não há canção. Outro ponto interessante da entrevista foi quando ele definiu que o termo “cancionista” é aplicado naqueles que não são músicos, mas sabem compor canções.
E quando em uma obra existe música, poesia e canção, tudo junto? Classifico como “multi-cancionista”? É, acho que é isso! Esse é o caso de Gero Camilo, ator, dramaturgo e “multi-cancionista”, que faz parte da trilha sonora e visual da minha vida e vou dividir (ou até apresentar) um pouco com vocês.

Canções de Invento

Conheci esse turbilhão sonoro no ano de 2008, assim que o disco foi lançado. O processo de absorção foi imediato e as 13 canções entraram pro meu estado de leveza da alma por completo. Tanto que só após muito tempo que consegui conectar a máquina de escrever da mente e dos sentidos, com a do mundo real.
Canções de Invento é o primeiro registro musical da obra poética de Gero Camilo. Com letras que falam de amor, arte, fé, folclore, modernidade e fenômenos da natureza, essa musicalidade está inserida na tipologia de uma música de informação, de pouco espaço nos meios da comunicação, mas totalmente adequada no meio “cancioneiro contemporâneo”. Brincando com a língua portuguesa e criando neologismos diversos em suas composições, Gero consegue fazer um encontro sonoro artístico e contundente. Anunciação, explica um pouco essa mistura de influências da realidade vivida na década de 60, entre política, crítica social e o movimento musical Tropicalista, colocada na atualidade literária e colorida em que vivemos:

“Esse é o Manifesto Antroprofágio. Em agradecimento ao entretenimento em deprimento, do que era uma pedra no caminho. No verso intransitivo. Esse é o manifesto propicarista! A descendência naturalista das novas desordens há já bem vistas! Nossa gente humilde armada, nosso gatilho em disparada, nosso retiro. Essa é a nossa rua, inunda, o que a marginalidade funda. Nosso pavio curto, nossa pomba de chocolate. Essa é a nossa livraria cheia de crimes do dia-a-dia, cheia de amores e beijos. Essa é a nossa cultura. A paisagem dura, o tapete vermelho onde o povo samba. Uma feira de artes na beira da tarde, essa é a nossa parte. As agrárias que nos cabe nesse latimundio, nesse latimundio, nesse latimundio. Essa é a nossa raça, plura. A nossa raça plura, plura. As novas revoluções sobre a mesma impostura e pra não dizer que não falei: aqui jaz um deserto, aqui perto é jardim!”

Em um tom primaveril, as canções caminham por diversos ritmos como o samba, maracatu e baladas levemente melancólicas, de arranjos bem elaborados. Nada sem muita classificação de gênero até porque existe uma pluralidade de odes nessas canções pós-modernas de invento.  O disco conta com várias participações especiais, desde das composições até as finalizações de gravação. Uma das mais notórias e conhecias é a de Lirinha, em Cabeleira de Capim e Vai Desabarar, que mistura com Gero o universo teatral de ambos em forma de som e sentido.
Aqui a esperança não se cansa de esperar, qualquer gesto de amor é maior que a bomba, a tempestade alaga dentro e fora, a gravidade quebra barreiras, o céu é pintado com todas as cores. Os inventos são reais e transcendem ao entendimento de se música e/ou poesia. O certo é que aqui, além de todos os adjetivos exacerbados nesse texto, é que Gero Camilo é um cancioneiro de invenção multi-artístico.

Não quero citar canção por canção nem colocar mais encanto. Sugiro que você tenha uma oportunidade para escutar esse disco e tirar sua própria conclusão. Mas antes de terminar e já desmentindo o começo desse parágrafo final, deixo o texto declamado por Gero em Jobinamente, pois vale a pena ser lido com atenção!


Download - Canções de Invento (2008)

01 – Cabeleira de capim (part. Lirinha e Otto)
02 – Anunciação
03 – Enigmática máscara
04 – O aprendiz (part. Ceumar)
05 – Gogós dodóis
06 – A modernidade
07 – Gravidade
08 – Tintura (part. Rubi)
09 – Vem amor (part. Marat Descartes)
10 – Carta de Puebla
11 – Gesto delicado
12 – Jobinamente
13 – Vai desabar (part. Lirinha)

segunda-feira, 7 de junho de 2010

Meus Bons Jovens

Há seis anos atrás o Brasil conheceu uma das melhores bandas que a cena musical independente de Pernambuco já teve e continua tendo, a Mombojó. O primeiro contato foi simples, através do site deles se fazia o download do Nadadenovo, com músicas de conforto para a alma e diversão para o corpo. Tudo moderno para um mundo de informação rápida. O site continua o mesmo, mas o disco é Amigo do Tempo e hoje, depois de várias mudanças, essa banda amadureceu, conquistou reconhecimento, atingiu um ponto alto de personalidade e são a prova de que em amizade, “é um por todos e todos por um”!
Antes, os meninos saiam da adolescência, ensaiavam na garagem da casa de Samuel ou ficavam de bobeira pelas ruas do Poço da Panela, em Casa Forte.  Agora, eles moram em São Paulo, produzem novas bandas (Felipe S. e Marcelo, a A Banda de Joseph Tourton; Chiquinho, Jr Black) e têm um estúdio em parceria com China e outros amigos bons, o Das Caverna, no Recife. E por falar no Recife, só voltam para fazer shows ou absorver um pouco das raízes e saudades.
O processo de transição da banda passou por muitas modificações. Desde da morte de O Rafa, em 2007, a saída de Marcelo Campello e até ao rompimento com a gravadora Trama. Entre o Homem-Espuma e o Amigo do Tempo, foram três longos anos de produção, (mais) independência e muito iê-iê-iê de turnês junto com a Del Rey. Os fãs ficaram loucos, pensando de tudo um pouco. O fato é que essa demora pode agora ser explicada em um único verso da música título do novo disco: “Almejo ser o amigo do tempo / Dar cabimento para o ócio é que eu não dou”.
O primeiro sinal de um novo disco, veio em meados de 2008, com o lançamento do DVD MTV Apresenta: Sintonizando Recife. Nele, a Mombojó dialogava com outras bandas questões que iam do mercado fonográfico ao reconhecimento das bandas independentes ou já consagradas. Além do mais, apresentaram o primeiro single que daria título ao disco futuro, Amigo do Tempo. As novidades não aconteciam só por aí. Durante os shows, a banda também testava as músicas com o público e sentia a recepção. O que não deixa a entender que tudo já estava pronto nesse tempo de pseudo-ócio.
O tempo é a junção de um passado - vivido ou não -, com um futuro presente. Para a Mombojó, esse tempo reinventou conhecimentos musicais em que o passado se encontra com o presente. Muitos acreditam que o Nadadenovo será sempre o marco da banda. Mas fazendo uma viagem há anos atrás e reconhecendo os caminhos que a vida trilhou, a mesma banda independente que disponibilizou sua música de graça na internet em 2004, de sonoridade que vai do rock passa pela bossa nova e termina em diversas programações eletrônicas, é a mesma que hoje, dia 07 de junho de 2010, lança o novo disco primeiramente na internet do que em CD (o lançamento será dia 19) e tem uma arquitetura musical inovadora e única ao mesmo tempo.
O disco não é totalmente orgânico e sim, muito mais universal do que os dois primeiros lançados. Das 11 faixas, seis compostas por Felipe S., Amigo do Tempo apresenta uma mistura pop de imagens audíveis e super dançantes, com letras simples mas de arranjos marcantes e intensos. O quinteto formado por Vicente/Samuel/Marcelo/Chiquinho/Felipe S., participa de todo o disco tocando de tudo um pouco. Quem é da bateria, passa pra guitarra; quem é do vocal toca escaleta; quem toca baixo vai pro vocal... Mas fora eles, um outro time de grandes músicos também entraram em campo, como Guizado, Pupillo - assinando também a produção do disco junto com Rodrigo Sanches, Evaldo Luna e a Mombojó -, Edson Gomes, Quéops Negão e por aí vai.
Um balanço equilibrado entre letra e música. Entre a União e a Saudade e Praia da Solidão, as canções falam de sentimento e de melancolia da forma leve que a banda sempre cantou. Em Antimonotonia e Passarinho Colorido, eletrizantes arranjos instrumentais se sobre saem, com sonoridades rica em cordas, trompetes, samples e cellos. Já em Papapa, uma trilha sonora de vídeo-game é criada: enquanto não for descongelada toda a neve daquele inverno passado, que não deixa o sol iluminar seu lar, você não ganha vida nem bônus solares de verão. Uma brincadeira que só a música de qualidade permite dar a sua imaginação.
Parceiro para todas as horas, o tempo anda lado a lado da Mombojó. E Casa Caiada afirma todo esse caminho certo de trilhas tortas: Penso no passado e já posso afirmar/ Casa Caiada não sou mais quem fui/ sinto perigo em qualquer lugar/ sinto muito mas não vou ficar”
Vida longa à Mombojó! Melhor banda, melhor show, melhores músicos e melhores entendedores de que só temos o tempo, quando damos espaço para o mesmo existir. 

terça-feira, 1 de junho de 2010

Fugindo da realidade.

MTV – 23:30 – Lobotomia: Lobão entrevista Otto.

O assunto aqui não se diz respeito da MTV nem de Lobão e sim, de Otto. Não exatamente dele, mas sobre um momento da entrevista que me assustou: Otto mudou a letra da música Crua só para ela participar da novela das 8, Passione, da Rede Globo?
Há exatos 15 dias atrás, a novela entrou no ar. Logo no primeiro capitulo, nas cenas de apresentação dos personagens, tomei um susto ao ouvir aquela introdução orquestrada de uma música que me era super familiar. Primeiramente, estranhei. Tentei ouvir direitinho entre cenas de Cauã Reymond andando de bicicleta por São Paulo e o som da música e seus acordes cheios de cordas. Sim, aquilo era Crua, de Otto, música que se tornou um mantra na vida de muitos. Corri pro Twitter e confirmei com vários usuários: Otto na novela das 8! Poxa, que coisa que massa, o slogan de "Pernambuco falando para o mundo" realmente continua. Mas logo depois pensei: "Tenho certeza que serão somente os 45 segundos iniciais da música. Só a Globo mesmo pra colocar o “fodia de noite e de dia” tão intranqüilo e verdadeiro do Galego.”
A novela está passando e eu estou passando longe dela. Hoje, 15 dias depois, assisto essa entrevista na MTV e confirmo o que pensei semanas antes: “o fodia de noite e de dia” não ia mesmo passar na novela. De acordo com a colunista Patrícia Kogut, do jornal O Globo, a pedido do diretor musical da emissora, Mariozinho Rocha, o cantor teve de mudar o “fodia” por “fugia”.
Vamos ler a letra da música original e a que está sendo veiculada na novela:

Crua – Certa Manhã Acordei de Sonhos Intranquilos

E ter que acreditar num caso sério e na melancolia que dizia.
Mas naquela noite que eu chamei você fodia. fodia.
Mas naquela noite que eu chamei você fodia de noite e de dia.”

Crua – Passione

“E ter que acreditar num caso sério e na melancolia que dizia.
Mas naquela noite que eu chamei você fugia. fugia.
Mas naquela noite que eu chamei você fugia de noite e de dia.”

Voltamos pra década de 60. Ditadura Militar, época do Tropicalismo e dos Festivais da Música Popular Brasileira. Compositores como Caetano Veloso, Gilberto Gil, Tom Zé, Chico Buarque e tantos outros, tinham de ter suas músicas revistadas por membros da censura para poderem cantar suas músicas. Hoje estamos em outro século. A política não é a das melhores, a época musical está crescendo com “a parte que te cabe neste latifúndio” e encontramos a mesma censura e a falta de liberdade de expressão nas músicas. Os dominantes e os dominados. Até que ponto sua obra deve ser transformada para ser incluso e agradar o mercado?
Achei desnecessária essa mudança na música e a felicidade que eu tive foi toda embora. O artista é aquilo que faz e Otto é o Condon Black que canta e toca por aí sempre. Mas infelizmente o mercado de hoje vai mais além do que a simples forma de fazer arte e envolve dinheiro, status, reconhecimento e aceitação de massa.
Cada um sabe o que faz e da melhor forma que for pra si. Mas realmente, “há sempre um lado que pesa e outro lado que flutua” e pra você entrar na Rede Globo e no mercado consumidor, nêguinho, tu tem que saber flutuar nem como pena, e sim, como pássaro!