quinta-feira, 15 de abril de 2010

Algumas músicas são atemporais.

Tom Zé nasceu em Irará, interior da Bahia, foi pra Salvador e estudou música na Universidade Federal da Bahia. Depois partiu rumo ao Rio de Janeiro e “São São Paulo meu amor”, se tornou um dos tropicalistas mais satíricos e inovadores, e posteriormente, foi “salvo” por David Byrne pelo seu exotismo estrangeiro. Não, não foi só esse seu papel na MPB. Tom Zé nos proporcionou o prazer de sentir que a música é sim atemporal.

Em 1976, um tempo depois de seu primeiro disco de 1968, lançado pela Rozemblit, do prêmio do Festival da Canção também do mesmo ano e do fim do movimento tropicalista, Tom Zé lança um disco que passou despercebido pela crítica nacional até o fim da década de 80: Estudando o Samba.

Tudo começa pela simples capa: arame farpado entrelaçado à corda de violão e o nome samba em destaque. Um convite para o completo que seria encontrado naquelas doze faixas de estudos dedicados às avessas (ou não) por Tom Zé.

Como um bom estudo, Tom Zé convidou o sambista Elton Medeiros para participar de algumas gravações, transformando a matéria bruta em perfeição (se assim pode dizer). O Índice está presente para construir (reconstruir ou desconstruir, pois é a última faixa do disco) a direção desse conhecimento:

“A felicidade
só dói
só dói se (Toc!)

mãe
tô só
dói mãe (Hein?)
ui!

Existe de tudo nessa disciplina do samba. Samba-canção - Só (Solidão), samba de raiz – Dói, Ui! (Você Inventa), Mãe (Mãe Solteira), chorinho – Se, cantiga de roda com uma raiz negreira – e até as que terminam desabando um pouquinho pro lado do maxixe – Vai (Menina Amanhã de Manhã), Hein?.  Há também aquelas músicas que são consideradas pós-modernas – Toc, que são de poesia paradoxal e literalmente feita para poder ignorar todas as informações desse estudo – . Um dos maiores temas abordados, é A Felicidade, de Tom e Vinícius. Tom Zé conseguiu expressar ao pé da letra, cada palavra que compõe essa canção, se tornando (na minha opinião) uma das regravações mais bem interpretada desse clássico da bossa-nova. 


Não pode deixar de citar também, de toda a ligação existente dos nomes das músicas do disco dentro das outras composições, de uma maneira bem visível. (Não tirando só Índice como exemplo)

Esse encontro do samba, erudito, regional e todos os caminhos dessa obra experimental e atemporal de Tom Zé, não foi o suficiente para aquela época. Ele acabou sendo afastado e digamos, escanteado pelo grande público. Como foi dito logo no começo, o reconhecimento só aconteceu quando David Byrne (ex-Talking Head) se encantou pela simples capa do disco em um sebo no Rio de Janeiro. O que aconteceu? Tom Zé ganhou o mundo e o disco foi aclamado pela imprensa internacional (The New York Times, Le Monde, Rolling Stones). 

Até onde vamos chegar sem perceber a verdadeira qualidade sonora existente no Brasil? Será que somente quando atingirmos o tal ‘conhecimento mundial’? Fica essa a reflexão quanto ao real valor do nosso nacionalismo musical.

Mas a questão toda aqui, não é discutir valores nem qualidade, e sim, observar com delicadeza esse grande disco. Após 34 anos, essa sonoridade presente no Estudando o Samba é mais que atual. O prazer da música é esse. É ver que mesmo com tanta mudança de ritmos e de culturas, as verdadeiras obras musicais nunca são esquecidas, nem deixadas de lado. Pode haver novas versões dessas canções, mas nada será comparado à peculiaridade de Tom Zé e sua ousadia musical que vai além.

Pra vocês, alguns marcos desse estudo fantástico do samba:








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